quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A seca está matando os nossos irmãos no sertão do Piauí

por Dom Jacinto Brito
“Repassando na oração e na mente a situação da seca, em nosso Estado, decidi: é preciso ir ao encontro dessas Dioceses mais sofridas! É preciso dar aos seus Bispos e seu povo um sinal de solidariedade! Então me veio a interrogação: o que tens a oferecer? Por um instante essa pergunta teimou em não se calar! Finalmente, a palavra de Pedro, nos Atos dos Apóstolos, chegou como uma luz: "Eu não tenho ouro nem prata, mas o que tenho te dou." Assim fortalecido contatei com os Bispos de Oeiras, São Raimundo Nonato e Picos, para agendar a visita. Convidei o Pe. Tony Batista, presidente da Ação Social Arquidiocesana (ASA) para irmos juntos e iniciamos, semana passada, a peregrinação, vimos e sentimos o sofrimento de centenas de famílias reféns deste drama que se repete a cada ano em nossa região, mas que desta vez se faz mais feroz e desolador. Levamos algumas cestas básicas doadas pelos paroquianos da Igreja de Fátima. Não muita coisa diante de tanta carência.
 A nossa visita teve como propósito a solidariedade de dizer que Arquidiocese de Teresina não está indiferente ao sofrimento de tantos irmãos e irmãs. Fomos lá fraternalmente oferecer o nosso apoio ao povo e aos bispos. A nossa a intenção foi ainda colaborar na busca de alternativas para minimizar o sofrimento de tantas pessoas que estão perdendo plantações, bens, animais e adoecendo pela falta do bem mais precioso: a água, que desapareceu, em muitos casos, até para matar a sede.
 Conversamos com os nossos irmãos bispos, com lideranças comunitárias, com o povo, com as crianças, com os idosos; e ouvimos seus clamores. Diante de tantas tentativas e apelos em vão, todos depositaram em nós a esperança de fazermos ecoar tamanho esse sofrimento que, de tão propagado, parece que virou lugar comum. Não tocaria mais o coração das pessoas? Das autoridades? De quem tem a obrigação de efetivamente buscar soluções? Em nossas conversas, reconhecemos a dificuldade do momento, mas externamos a confiança que juntos podemos superá-la. Comprometemos-nos em gritar forte, pedir ajudar, falar com autoridades, rezar e pedir a Deus que mande chuva e amenize o sofrimento de tantos. Essa dor dilacerante deve ser e é nossa também.
 A nossa visita às três dioceses teve momentos de reuniões, conversas, orações e celebrações. Ficamos profundamente sensibilizados com o sofrimento dos nossos irmãos vitimas da seca. Fomos lá dizer que cada irmão ou irmã não esta sozinho. Estendemos a nossa mão amiga diante deste momento difícil de estiagem, seca.
 Em cada uma das regiões dos deparamos com as piores consequências provocadas pela falta de água. Em Oeiras, os animais estão morrendo, quase nada escapa. Já em São Raimundo Nonato, as famílias vendem suas criações, seus bens por quase nada. Lá a seca castiga mais ainda porque não há fontes de água, açudes, cacimbões. Os poucos carros pipas não atendem a todos que precisam. Há ainda a famigerada distribuição política da água. Em Picos, o êxodo em busca de trabalho e da simples sobrevivência transforma a região em um lugar de senhoras idosas e crianças. Toda a mão de obra ativa está saindo em busca do básico: trabalho. Para se ter uma ideia, a fábrica de mandioca que funcionava na região empregando 1.000 mulheres está parada por falta de matéria-prima e nem o cepo da mandioca há disponível para plantações futuras, o que pode gerar um colapso.
 Assim, sentido a dor dos nossos irmãos e irmãs que vivem no sertão piauiense, conclamamos toda a sociedade a se voltar e gritar conosco em busca de soluções imediatas, que minimizem este exacerbado e cruel o padecimento. Com o grito do Ipiranga, ouvimos o grito do povo por vida e vida humana!

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