“Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química”, alertou o Papa
Na
quarta-feira, 24 de julho, o Papa Francisco retornou ao Rio de Janeiro,
após celebrar missa no Santuário Nacional de Aparecida, para inaugurar
um centro de atendimento para dependentes químicos no Hospital São
Francisco de Assis da Providência de Deus. Uma multidão aguardava o
Santo Padre no hospital e o Pontífice fez questão de cumprimentar a
todos. O Papa parou por várias vezes para conversar com funcionários e
pacientes. O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta,
saudou o Papa e falou sobre o trabalho que será realizado pelo Polo de
Atenção Integral à Saúde Mental (PAI). Na oportunidade do encontro com o
Papa, dois recuperandos falaram de suas experiências com as drogas e o
modo como conseguiram vencer o vício.
O Santo Padre fez um discurso, no qual
destacou que há muitas situações no Brasil e no mundo que reclamam
atenção, cuidado e amor, como a luta contra a dependência química. “A
chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e
a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem”, apontou.
Confira o discurso do Papa Francisco na íntegra:
“Senhor Arcebispo do Rio de Janeiro,
Amados Irmãos no Episcopado
Distintas Autoridades,
Queridos membros da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
Prezado médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde,
Amados jovens e familiares!
Amados Irmãos no Episcopado
Distintas Autoridades,
Queridos membros da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
Prezado médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde,
Amados jovens e familiares!
Quis Deus que meus passos, depois do
Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular
santuário do sofrimento humano, que é o Hospital São Francisco de Assis.
É bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês: o jovem
Francisco abandona riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre
no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do
mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas
sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos
conhecido o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi
quando abraçou um leproso. Aquele irmão sofredor foi «mediador de luz
(…) para São Francisco de Assis» (Carta enc. Lumen fidei, 57), porque,
em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a carne sofredora de
Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química, quero
abraçar a cada um e cada uma de vocês – vocês que são a carne de Cristo –
e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de
vocês e também o meu.
Abraçar. Precisamos todos de aprender a
abraçar quem passa necessidade, como São Francisco. Há tantas situações
no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta
contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas nossas
sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os “mercadores de
morte” que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A
chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e
a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando
livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América
Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da
dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na
raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens
para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em
dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar o
outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa
necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor.
Mas abraçar não é suficiente. Estendamos
a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da
dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você pode se
levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser.
Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas
outras pessoas que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo
caminho de vocês: Você é o protagonista da subida; esta é a condição
imprescindível! Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar,
mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão
sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão solidárias com vocês. Olhem
para frente com confiança; a travessia é longa e cansativa, mas olhem
para frente, existe «um futuro certo, que se coloca numa perspectiva
diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo, mas
que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias» (Carta Encícl.
Lumen fidei, 57). A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes
roubem a esperança! Mas digo também: Não roubemos a esperança, pelo
contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança!
No Evangelho, lemos a parábola do Bom
Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase
morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas não param;
indiferentes seguem o seu caminho: não é problema delas! Somente um
samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e
cuida dele (cf. Lc 10, 29-35). Queridos amigos, penso que aqui, neste
Hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há
indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação
São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a
se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas
a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre.
Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O
serviço de vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço
feito a Cristo presente nos irmãos: «Todas as vezes que fizestes isso a
um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes»
(Mt 25, 40), diz-nos Jesus.
E quero repetir a todos vocês que lutam
contra a dependência química, a vocês familiares que têm uma tarefa que
nem sempre é fácil: a Igreja não está longe dos esforços que vocês
fazem, Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e
lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros e Ele lhes
dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de Maria,
sua Mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada um de vocês
ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado
sempre está Ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto,
afetuosamente, a todos abençoo”.
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